Brasília, 31 de dezembro de 2020
Caro novo prefeito do Recife (PE)
João Campos
É enorme a satisfação de ver se descortinar o primeiro dia do ano de 2021 com a posse do estimado companheiro no cargo de prefeito do Recife. Em épocas sombrias como a que vivemos, os símbolos de renascimento, fundamentais em nossa cultura, são particularmente vitais por anteciparem um futuro que ainda luta por nascer.
O Brasil precisa mais do que nunca deste futuro, ameaçado que está pelo obscurantismo e pela perda de empatia social, promovidos e potencializados pela extrema-direita no poder. Neste contexto, o mandato que se inicia é o marco de uma virada política, que precisa se alargar para abraçar o país.
Evidentemente sua juventude empresta ao conjunto da obra qualidade nova, esperança viva de renovação de princípios políticos, de prioridades e de práticas administrativas. Há, no entanto, uma especificidade: a combinação, em dose certa, da renovação com uma longa tradição humanista.
Para mim, que tive o privilégio de compartilhar longas jornadas com seu bisavô, o inesquecível Miguel Arraes, que pude desfrutar do convívio com seu pai e inspirador, Eduardo Campos, é verdadeiramente reconfortante vê-lo empossado.
Gerações de homens e mulheres que lutaram por democracia, por justiça social, por igualdade e liberdades civis começam a vislumbrar, neste agora, aqueles que haverão de portar o alforge pesado dessas esperanças por realizar.
É a isso que remete, por sinal, a vitória nas eleições do Recife: uma mudança transgeracional na política nacional da qual o companheiro – pela idade, por ser herdeiro de uma longa tradição de lutas, por governar uma grande capital – é um dos maiores expoentes.
Tal oportunidade e seus desafios me recordam uma das inquietações que atravessam a obra de Franz Kafka e que envolve claramente uma questão inspirada pela teologia judaica: como identificar quem pode ser o portador da tradição, da palavra que vivifica? O que, traduzido para política, implica uma angústia do romancista quanto às formas de transmissibilidade da empatia dos seres humanos pela própria vida, em uma época que prenunciava as atrocidades da intolerância, do antissemitismo e do extermínio.
Esse me parece ser o horizonte mais amplo, humanista, em que sua trajetória política vai se desenhar. Saúdo, nestes termos e desde já, um marco simbólico que vai ao encontro de tal desafio: um governo cuja administração contempla a paridade entre homens e mulheres. Não é pouco e, para tanto, basta lembrar que o lugar que a extrema-direita confere às mulheres é o de uma subalternidade reprodutiva – elas são as “matrizes” de uma concepção eugenética de mundo.
Por fim, em nome das expectativas que sua eleição ensejou – junto ao conjunto da população e no seio do Partido Socialista Brasileiro – desejo de coração pleno êxito ao longo do mandato, e que o dia-a-dia da política jamais dobre as asas, que haverão de levá-lo à realização de todas as suas enormes potencialidades.
Com minhas cordiais saudações socialistas,
Carlos Siqueira
Presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro – PSB