O paradoxo de Rodrigo Maia: o presidente da Câmara fez uma autocrítica verbal, andou dizendo que “tinha uma visão muito pró mercado privado de saúde” e que compreendeu, agora, a importância do Sistema Único de Saúde (SUS), da educação pública e da assistência social.
Mas, em sua renovada visão, ao revelar como imagina o financiamento destes serviços públicos, Maia sugere “revisitar reforma da previdência” e uma reforma administrativa mais profunda “incluindo o pessoal da ativa”. O que isso significa?
Quem imagina que Rodrigo Maia trocou as juras de servilismo e fidelidade ao mercado financeiro por um compromisso sério com interesse público se engana. Na verdade, ele faz uma manobra verbal para renovar o velho discurso do eterno ajuste fiscal por meio do corte de gastos públicos.
Ao falar em nova reforma da previdência e em reforma administrativa que inclua “o pessoal da ativa”, o presidente da Câmara está propondo – nada mais nada menos – o aprofundamento da nefasta lei do teto dos gastos. No que diz respeito à previdência, significa o retorno à ofensiva para liquidar o conceito de previdência como direito do trabalhador e dever do Estado. É o retorno da proposta do regime de capitalização, poupança pública forçada nas mãos dos bancos.
Quanto à reforma administrativa, o que foi colocado em pauta é simplesmente a redução de salários e direitos adquiridos dos servidores públicos. É a reciclagem da velha metodologia da propaganda neoliberal. Até aqui, a fórmula repetia uma mentira até que acreditassem que ela era uma verdade.
Os meios de comunicação abriam sua artilharia defendendo o desenvolvimento, crescimento econômico e emprego. Mas, para que isso pudesse acontecer, seria preciso apertar o cinto, acabar com o déficit e atrair investidores. Aí sim, a economia decolaria e chegaríamos ao paraíso.
Em época de pandemia, esse discurso não cola mais. Rapidamente, os arautos do mercado querem trocar a espiga de milho na frente do burro, que anda atrás dela sem nunca alcançá-la. A espiga era o crescimento e o emprego, agora, querem colocar em seu lugar a saúde e educação pública de qualidade e – pasmem – a assistência social.
Mas para financiar tais avanços será preciso, primeiro, fazer um novo arrocho, um novo ajuste: parar de uma vez os “gastos” com aposentadorias e cortar salários dos servidores “privilegiados”.
Assim, o discurso de Rodrigo Maia quer matar dois coelhos com uma cajadada só: por um lado, ele quer continuar sendo o menino de ouro dos banqueiros reciclando a política de sujeição do cofre da viúva ao mercado financeiro, e, por outro lado, tenta se antecipar, se apropriando da luta por saúde, educação e renda básica para todos.
A esperteza de Maia é tão antiga quanto a de Delfim Neto, que dizia que primeiro o bolo precisa crescer para depois dividi-lo. O que há de novidade é o prenúncio de que a luta pelo financiamento público da saúde e educação universais de qualidade e por renda básica para combater a miséria e as desigualdades, pode ganhar força de massa suficiente para libertar o orçamento da união que, há muito, foi sequestrado pelos banqueiros e seus serviçais travestidos de autoridades públicas.
Referências de https://congressoemfoco.uol.com.br/saude/maia-diz-que-mudou-visao-sobre-o-sus-eu-tinha-uma-visao-muito-pro-mercado/